quinta-feira, 19 de abril de 2012

Paradoxo - Pontos de venda de açaí estão irregulares em Belém.




Pontos de venda de açaí espalhados por Belém estão com a Licença de Funcionamento vencida desde março, de acordo com a Divisão de Vigilância Sanitária (Devisa), órgão municipal que emite o documento. 


Com validade de um ano, a licença é o atestado de salubridade na manipulação da fruta. Anteontem, o titular da Promotoria de Defesa do Consumidor, Marco Aurélio Nascimento, do Ministério Público do Estado do Pará (MPE), disse que 70% do açaí consumido em Belém estão contaminados com coliformes fecais, mas, segundo a Devisa, o índice chegou a 87,5% em 95 pontos onde a polpa e a fruta foram coletadas em 2011. A Associação dos Batedores Artesanais de Açaí de Belém contesta os dados e diz que, para os vendedores do produto, o índice é uma forma de baratear o valor da fruta para que grandes empresas adquiram o estoque. O resultado da análise deve ser publicado apenas no mês de junho. Segundo a diretora da Devisa, Patrícia Pina, se órgão exigisse a Licença de Funcionamento, teria de fechar 98% das batedeiras de Belém.
 
O universo de estabelecimentos que transformam a fruta em 'vinho' de açaí é de aproximadamente quatro mil pontos, segundo a associação de batedores, e pode chegar a cinco mil para a Devisa. Deste total, apenas 74 estabelecimentos são cadastrados na Vigilância Sanitária para obtenção da Licença de Funcionamento. Os atestados, por sua vez, estão vencidos e os batedores de açaí não procuraram o órgão para renovar a licença, diz a diretora da Devisa. Os demais batedores sequer possuem o documento, mesmo com validade expirada. Uma história que se arrasta há anos em Belém. Transmissão do Mal de Chagas e outras formas de contaminação teriam ocorrido através da fruta e do vinho de açaí. 'Isso acontece por manuseio inapropriado do açaí e dos utensílios', declarou diretora da Devisa.
 
Segundo ela, o órgão busca um caráter pedagógico, orientando os batedores ao invés de apenas fiscalizar e fechar os estabelecimentos. Uma vez por semana é realizada palestra sobre manipulação de alimentos para profissionais da área. Porém, os 'batedores não se interessam e poucos aparecem nas palestras', diz Patrícia Pina. A associação, porém, discorda das alegações. 'Para nós é uma surpresa. Esses dados de coleta nunca são passados para a associação. Para mim, é uma pesquisa mal feita. É um trabalho tendencioso', declarou o presidente da associação, Marivaldo de Almeida Ferreira. 'Sempre se diz que esse nosso açaí está com problemas. Essas informações são estranhas e quem ganha com isso são grandes empresas que compram um açaí mais barato'.
 
A diretora da Vigilância Sanitária alega que a associação é informada sobre a realização das palestras e diz que o órgão busca fazer com que os proprietários de batedeiras se regularizem, o que fracassa na maioria das vezes.


Higiene


Nas ruas de Belém o consumo de açaí segue e muitos vendedores se esforçam para se adequar às regras de higiene. Em uma batedeira que fica na esquina da travessa 14 de Março com rua dos Mundurucus, no bairro da Cremação, o batedor Fernando Gomes, de 26 anos, investiu R$ 1.800 na aquisição de um filtro industrial de água. Apontando para um cartaz da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), ele afirma que segue as orientações do órgão. Dentre elas, a higienização dos utensílios com água e hipoclorito, antes e depois da feitura do açaí; lavagem do fruto com água e hipoclorito; e maceração do fruto em água a 80º C por cerca de dez segundos. 'Eu já fiz o curso da Devisa e posso preparar normalmente o açaí', explica o vendedor, mostrando o certificado do curso de manipulação de alimentos.

No box 'Mário Célio Campos', que fica na Feira da Cremação, o filtro industrial também é usado pela batedeira Valda Jesus, de 43 anos, que trabalha há 15 anos na feira. Movimentado, o boxe recebe dezenas de clientes por volta do meio dia. Um deles é o motorista Ronaldo Gama, de 53 anos. Com um litro de açaí nas mãos, ele diz que vai do bairro do Marex à Cremação para comprar o produto, que considera livre de bactérias e próprio para o consumo. 'Desse lugar eu levo o açaí sem me preocupar com doenças. No geral, acho que os vendedores estão tendo cuidado no preparo', avaliou.


Contaminação


Os coliformes fecais são bactérias que habitam o intestino de alguns animais e podem contaminar a água e os alimentos que, de acordo com parâmetros médicos, não podem ser consumidos caso haja o menor índice dessas bactérias. O consumo de alimentos infectados pode causar problemas gastro-instestinais, como diarréia e intoxicação alimentar. De acordo com o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), o recomendado é que em águas de rios e marés, por exemplo, o índice seja de até 1.000 coliformes fecais a cada 100 ml de água; já na água potável, o valor deve ser zero.

 



Fonte: O Liberal

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