quarta-feira, 27 de julho de 2011

Belém e a preocupação com as Mangueiras.


Era uma vez a cidade das mangueiras?


Era uma vez a cidade das mangueiras? (Foto: Thiago Araújo)
Estudo mostra que Belém perde o seu verde gradualmente (Foto: Thiago Araújo)









Meio Ambiente Urbano em Perigo. Com detalhes como a revelação de que as primeiras mangueiras começaram a ser plantadas em Belém em 1780, segundo relatos do arquiteto e também naturalista Antônio Landi, o estudo mostra que foi no governo do intendente Antônio Lemos (1898-1911) que a cidade ganhou a arborização que lhe rendeu o título de cidade das mangueiras, que num futuro próximo pode fazer parte “de um passado nostálgico”.


Belém vem perdendo, de forma incessante e rápida, o seu verde urbano”. Esta é a conclusão a que chegaram a professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), Violeta Refkalefsky Loureiro, Doutora em Sociologia do Desenvolvimento, e o Mestre em Geografia, especialista em geografia urbana, Estêvão José da Silva Barbosa, em estudo publicado no periódico do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da UFPA “Novos Cadernos NAEA”.



A especulação urbana e ocupação desordenada do solo estão acabando justamente com o maior símbolo da cidade: as mangueiras. Tombadas pelo Patrimônio como bem de uso comum e preservação permanente, elas são as espécies que sofrem os maiores danos.


E o que é pior. Ao contrário de outras capitais, onde a iniciativa privada é a maior culpada pelos danos ambientais, “em Belém, as ações e omissões do poder público em relação à cidade, respondem mais gravemente que o setor privado, pela deterioração da paisagem urbana, seja no que concerne ao verde, seja no que diz respeito às águas internas da cidade”, apontam os professores.


Com detalhes como a revelação de que as primeiras mangueiras começaram a ser plantadas em Belém em 1780, segundo relatos do arquiteto e também naturalista Antônio Landi, o estudo mostra que foi no governo do intendente Antônio Lemos (1898-1911) que a cidade ganhou a arborização que lhe rendeu o título de cidade das mangueiras, que num futuro próximo pode fazer parte “de um passado nostálgico”.


Os números citados no estudo não deixam dúvidas disso. Se até a década de 60 a cidade ainda era bastante arborizada, nas décadas seguintes houve um decréscimo no plantio de novas árvores e substituição das mortas. O plantio de árvores foi caindo progressivamente, passando de 27.979 mudas plantadas em 1989 para 18.950 mudas, em 1990 e apenas 4.486, em 1991, segundo dados do Horto Florestal da Secretaria Municipal de Urbanismo, citados pelos autores.

Empreendimentos mais recentes, como a construção da avenida Brigadeiro Protásio e a urbanização da Duque de Caxias e da Marquês do Herval, são citados como exemplos de intervenções realizadas pela prefeitura e pelo governo do Estado sem maiores preocupações com a arborização, privilegiando “a melhoria da circulação de veículos e de pessoas”, descuidando da importância das plantas para a melhoria do clima. Na 25 de Setembro, as árvores foram até sacrificadas.

Um verdadeiro crime, segundo os professores, vem sendo cometido contra a cidade. Hoje, a maioria das mangueiras centenárias estão morrendo por contaminação de ervas de passarinho e doenças, sendo que somente 7% delas podem ser consideradas boas.

Constatar isso não é difícil, basta uma rápida passagem pelas principais ruas do centro para se ter uma ideia. Na Gentil Bittencourt com a 14 de Abril, por exemplo, a equipe do DIÁRIO flagrou uma mangueira morta e outra na Magalhães Barata com a Castelo Branco.

A poda de árvores pela concessionária de energia elétrica é apontada também como outro fator preocupante. Uma ação que também não é difícil de flagrar. São podas que muitas vezes deformam e até matam as árvores. As empresas, segundo o estudo, deveriam investir em tecnologia que favorecesse a manutenção das árvores.
POVO

A população concorda com os estudiosos. O motorista de táxi Itamar Lopes diz que “o homem está acabando com a natureza, fazendo mal para ele mesmo” e sugere que o certo era a fiação ser subterrânea. O pequeno comerciante Francisco Abranche, lamentou a perda de uma mangueira bem na frente da casa dele. “A nossa defesa é a árvore. O fio deveria passar por baixo, conservava a vida da árvore”, afirmou.

A vendedora Maricleide Gomes diz que “estão fazendo o que não se deve fazer. Essa avenida (prolongamento da João Paulo II) é um exemplo, eu sou obrigada a usar sombrinha para me proteger”. O fotógrafo Alexandre Pacheco acha “um absurdo, do jeito que está quente o planeta deveria ter mais arborização. Nossas autoridades deveriam pensar melhor e se preocupar mais com o efeito estufa”.



Semma destaca monitoramento e projetos de arborização
A chefe do Departamento de Arborização que está no exercício do Departamento de Áreas Verdes da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, engenheira agrônoma Daniele Coury, afirma que todas as mangueiras centenárias de Belém estão sendo monitoradas por uma equipe formada por um engenheiro florestal e uma agrônoma.

Ela informou que as árvores mortas encontradas na cidade estão sendo analisadas e que aguarda resultado de exames do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves para apontar a causa das mortes. Mas pelo menos uma delas, a da Magalhães Barata com a Castelo, foi envenenada, o que foi constatado por meio dos furos que a árvore apresenta no caule. Mas, segundo ela, é também comum as árvores morrerem de causas naturais.

Segundo ela, existe cerca de 10 mil mangueiras na cidade, sendo que 2.300 são centenárias. Este ano, até julho, foram plantadas 191 mudas da espécie. Coury afirma ainda que é preciso levar em consideração que as mudas plantadas, apesar de uma taxa de mortalidade de 10%, estão crescendo e devem-se ter nutrientes suficientes para elas, por isso não se pode plantar indiscriminadamente.

Quanto à arborização no prolongamento da avenida João Paulo II, ela diz que já foram plantadas mangueiras e que espera a colaboração da população para que elas cresçam. Mas reconheceu que árvores foram sacrificadas na 25 de Setembro.

As podas da concessionária de energia, afirmou, são feitas em conjunto com a Semma, mas são diferentes. Enquanto a Semma faz uma poda de manutenção, a concessionária se preocupa somente com os fios elétricos. “As podas drásticas às vezes são necessárias”, justificou, referindo-se ao corte das árvores no tronco, que muitas vezes são feitas para salvar a própria árvore das ervas de passarinho.

Daniele Coury informou que a prefeitura só está aguardando a votação pela Câmara de Vereadores para iniciar o Plano de Arborização Urbana, que tem o objetivo de orientar tecnicamente a população sobre o assunto. O plano, segundo ela, não tem uma meta de plantio, mas dará as diretrizes para isso. “Será uma ferramenta norteadora da arborização”, afirmou.

Daniele lembra ainda que a prefeitura incentiva o cuidado de praças no projeto “Padrinhos de Verde”, por meio do qual empresas e associações podem "adotar" praças e promover a sua manutenção com o apoio técnico da Semma.




 (Diário do Pará)

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